Thursday, August 03, 2006

Homícidio por carilada

Estou chocado! Mas mesmo chocado!! Acabei, há pouco mais de 24 horas, de descobrir que um dos meus melhores amigos é um perigoso homicida!

Há uns dias atrás, eu e alguns amigos meus recebemos o convite de ir jantar a casa de um outro amigo (doravante conhecido como “O Perigoso Homicida”). O menu anunciava, insuspeitamente, um magnífico caril de gambas. E nós, quais patos encaminhando-se pelo canavial na direcção do caçador, aceitámos, sem desconfiar o que nos aguardava para essa fatídica noite…

O caril de gambas, fumegava, dentro do tacho, na mesa da sala de jantar, após umas entradas de queijo e carnes frias (ai!, mal sabíamos que o plano maléfico era para nos juntarmos à sua condição), disfarçado, entre a sangria branca, a cerveja e uma ou outra pacífica Coca-Cola. Quando o colocámos no prato, aposto agora que poderíamos ter ouvido certamente, se tivéssemos prestado atenção, um queixume de dor da suave peça de porcelana. Mas, não, quais brutos e feros na nossa ânsia de devorar, nas nossas conversas altas e nas nossas distracções fúteis, nem nos apercebemos que nos encaminhávamos a passos largos para um teste do destino, incapazes de prestar atenção aos sinais do que se aproximava.

Levei a primeira garfada à boca. E logo o destino se abriu à minha frente, ante o lume que teimava em me sair da garganta! Era o caril mais picante que já tinha provado!!! “Deitei algumas maçãs para cortar o picante” disse o meu amigo cozinheiro, tentando disfarçar o indesmentível. E a confirmação veio com a segunda garfada, os suores frios, o estômago às voltas (logo o meu, que se orgulha de comer o bife mais duro sem dar problemas)… estávamos ante uma tentativa de assassinato de um perigoso serial killer. “O Perigoso Homicida do Caril” (é o novo nome dele agora), estava a tentar livrar-se de todos nós com o caril mais picante que já existiu sobre a Terra (ok, ok, quem ler isto desmentirá de pronto, mas para mim, que fujo do picante, era-o, de certeza!!!). O fumo que deitava corria as paredes da varanda, o seu peso quase que abria buracos nos pratos e depois na mesa, a sua potência tornava-me parecido com um semáforo vermelho ou um geek apanhado a fazer nudismo numa biblioteca enquanto lia o sexto capítulo do Star Wars em livro. E, no meio disto tudo, e não querendo dar parte de fracos, continuávamos a comer alegremente o caril. Que “estava muito bom”. “Um nadinha picante, mas assim é que gosto”, enquanto nos esforçávamos para não explodir ali, naquele momento, qual bomba al-quaediana junto de embaixada norte-americana.

E, reflictamos por um momento nesse extraordinário exercício de virilidade masculina, que é comer comida o mais picante possível e gostar. Os meus amigos gabam-se daquela vez que, num jantar, acabaram todos de tronco nú, a comer caril de frango e a transpirar picante por todos os poros, em que mal se conseguiam mexer no dia seguinte, mas em que sobreviveram. Isto é uma prova de masculinidade como pertencer aos rangers, ser capaz de atravessar um incêndio na Serra do Caldeirão descalço ou ir com uma t-shirt supremacista branca para a Cova da Moura!

Mas, lá no fundo, eu percebi o plano. O “OPHC” (“O Perigoso Homicida do Caril”, é como lhe chamo agora) pode não ter ganho desta vez (apesar de, ainda agora, a febre com que estou e as voltas que o meu estômago dá a cada 5 minutos indiquem que foi por pouco), mas ele voltará novamente ao seu delito.

O homícidio por carilada!

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

É verdade!

Sou uma vitima e testemunha de que aquele Caril era tudo menos inofensivo.

Comecei a estranhar quando o "OPHC" começou a servir o arroz a dizer que era "um arrozinho branco muito bom...." e depois de colocar (já nem sei o quê) diz "agora vamos só pôr um pouco de molhinho, para não ficar muito seco".

Posto isto e depois de recuperarem o fôlego, podem exclamar... SUCKER!!!

Não passei das 3 garfadas... depois voltei às entradas...

8:04 AM  

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