Otelo shakeperiano

Nunca vou perceber porque razão o Otelo de Saraiva de Carvalho não aparece na eleição do Melhor Português de Sempre - ou no de Pior! Vejamos:

Estamos a falar de um homem que combateu em duas guerras (na realidade, apenas lhe chamamos Guerra Colonial, mas o homem combateu em Angola e na Guiné), fez uma revolução armada bem sucedida, que acabou com a sua vitória e sem derramamento de sangue (não é bem assim, mas o que é certo é que toda a gente sabe que poderia ter sido bem pior), foi um dos principais protagonistas daqueles golpes de estado que não eram bem mas até eram do "Verão Quente" de 1975, esteve preso, foi duas vezes candidato à Presidência da República, perdendo das duas (com cerca de 1% dos votos...), mas foi candidato!, como perdeu poderá (é importante utilizar aqui a possibilidade, porque só o senhor saberá se efectivamente o fez ou não) ter organizado uma rede terrorista para impôr o seu ideal, poderá ter sido o cabecilha dessa rede, foi preso outra vez, foi solto, foi amnistiado pela Assembleia da República, esteve pelo menos uma vez na praia do Portinho da Arrábida (eu vi-o lá), protagonizou um filme soft porno.

Gostava de saber que outra pessoa conhecem com uma vida assim? O homem foi visto a disparar metralhadoras, a dar ordens de cima de chaimites. Tinha uma boina vermelha. Foi julgado em tribunal por andar (supostamente) a dar ordens para a colocação de bombas e assaltos a bancos (sim, os grupos terroristas em Portugal assaltavam bancos, é uma história comprida, mas mais uns anitos e ainda acabavam a assaltar bombas de gasolina em Freamunde...). Apareceu 'descascado' a andar atrás de miúdas. Fez comícios. Foi vaiado e aplaudido vezes sem conta.

Este homem, quer se queira quer não, é um monumento. É ao mesmo tempo o Melhor e o Pior!

E só gostava de saber quem é o sortudo do produtor de cinema que vai levar a vida dele para o grande écran, porque este Otelo é bem capaz de fazer frente ao de Shakespeare! (e de garantir uma simpática receita de bilheteira no entretanto...)