A matança do Dia de Reis
- "A eles! A eles! Vamos a eles que são uns hereges"
A turba conturbada ululava de uma forma primária, brandindo foices, paus e iPhones, enquanto apontava para meia dúzia de pessoas, encolhidas, que carregavam alguns envergonhados embrulhos pela rua.
- "Isto é lá altura para presentes! Agora não! Presentes foram há 15 dias! Hereges! Hoje come-se é bolo-rei!"
Procurei, qual repórter televisivo que sou, perceber o que se passava, enquanto o cameraman continuava a rolar. Seleccionei, entre a multidão primária, um que me parecia mais estruturado, quiçá, mais racional.
- "Bom dia! Como está? Olhe é para a televisão. Posso perguntar-lhe o que se passa aqui?"
- "O que se passa aqui? Então mas você não é português e cristão? Não sabe o que se passa aqui?"
- "Sabe, gostava que os espectadores lá em casa ouvissem pela voz de quem anda na rua..." respondi aflito
- "Ah bom! O que se passa é que estes hereges de uma figa vão levar na tola! A isso vão! Belzebus!!!"
- "E porque vão eles, então, levar na tola, aqui, na Rua Nova do Almada?"
- "Porque são uns hereges! Onde já se viu! A oferecer presentes no Dia dos Reis! Os presentes são para se oferecer no Natal! É o Pai Natal que os traz! Toda a gente sabe que é o Pai Natal que traz os presentes!!!"
- "Vamos a eles pessoal, que o Benfica está quase a começar!!!" gritou outra voz, e a multidão em uníssono avançou sobre as suas vítimas
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