Homem-estátua do marquês à beira da reforma
A Câmara de Lisboa está em pânico com o anúncio efectuado ontem de que o homem que faz de estátua do Marquês de Pombal, na praça lisboeta do mesmo nome, vai apresentar a sua reforma este ano.
O senhor José Idalécio Pinto, que há 73 anos que posa no topo do pedestal da Praça Marquês de Pombal, vai reformar-se do seu posto de homem- estátua já no final deste ano, deixando vazio o seu lugar e o monumento em questão como apenas uma coluna isolada no meio de uma rotunda. Foi em Dezembro de 1934 que o então jovem e desempregado aprendiz de sapateiro viu a coluna vazia e, num assomo intrépido provocado por uma noite de jarros de tinto carrascão em quantidade excessiva numa tasca de Alfama, resolveu trepar à, na altura, "Coluna ao Lisboeta Comum", vestido de sobrecasaca vermelha e peruca à século XVIII. Para seu azar, no entanto, depois de concluir a sua façanha, e depois de lhe passar a ‘bebedeira’, lembrou-se que sofria de um problema grave de vertigens – vivendo, desde então, francamente aterrorizado com a perspectiva de ser obrigado a descer do topo do pedestal!
Com o tempo, dedicou-se à tarefa de imitar a pose de um estadista do século XVIII, no topo da coluna, em troca de dinheiro que os passantes depositavam numa caixa na base da estátua (e que servia para encomendar alimentos e bebidas à Telepizza – que se encarregava de os levar até ao topo da estátua numa das suas célebres lambretas vermelhas a altas horas da noite), tornando-se, assim, o primeiro homem-estátua do Mundo, e dando origem a uma nova profissão actualmente difundida à escala global.
A designação de "Marquês de Pombal" veio logo na década de 40, quando, ante a sucessão de visitas de estado ao nosso país, houve necessidade do Estado Novo justificar aquela presença excêntrica (e já algo andrajosa, visto nunca ter mudado de fatiota) no topo de uma coluna numa das principais praças da capital, escolhendo-se, à última da hora, a desculpa de que aquela era uma estátua ao déspota iluminado do século XVIII – e passando a pagar-se um pequeno subsídio diário para que o homem-estátua permanecesse calado durante a sua estadia.
Actualmente, o senhor José Pinto queixa-se de que o congelamento dos aumentos dos subsídios e a reduzida generosidade dos transeuntes (sendo que muitos desconhecem que o "Marquês de Pombal" é na realidade um homem-estátua e não uma estátua de betão) já não justificam a sua permanência no topo da estátua – "E quero voltar a ver a minha terra e acabar de exercer o meu ofício – é o meu sonho antes de partir! Por isso, vou abandonar o meu lugar no pedestal da praça" -, pedindo apenas a alguém que chame o Mestre Zandinga (o homem já está lá em cima há algum tempo e pode já não estar actualizado acerca do Mundo) para o hipnotizar e fazer descer a coluna em transe, de forma a ultrapassar o seu medo de alturas.
A Câmara Municipal de Lisboa pondera agora a encomenda a José Cutileiro de uma obra que represente o Marquês de Pombal para o topo da coluna, emparceirando com a sua estátua do cimo do Parque Eduardo VII, ou, alternativamente, fazer como o munícipio londrino fez com o homem-estátua de Trafalgar Square (quando também abandonou o seu posto de Lord Nelson) e rebaptizar o monumento de Coluna do Marquês de Pombal.
P.S- Ainda ninguém sabe se o leão da estátua se vai ou não manter em funções...
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