Monday, August 08, 2005

Abaixo a monotonia da A2!!

Lembram-se da antiga estrada para o Algarve? Foi só há 4 anos. Lembram-se? Uma sucessão de rectas de quilómetros intercaladas com colinas, com todo o género de tráfego a circular nela, desde carros com mais de 30 anos de idade a deslocarem-se a 20 à hora, camiões carregados de madeira com reboque integrado (uns monstros com 40 metros de comprimento que era preciso ultrapassar), tractores, míticas motocicletas FAMEL e Zundapp, vendas ambulantes nas bermas, sempre com a incerteza de que poderíamos encontrar gado ou cavalos tresmalhados na via, mas sabendo sempre que, mesmo antes de chegar ao nosso destino, iríamos ter que enfrentar a serra, com a sua sucessão de curvas, subidas e descidas, e o seu pesadelo de filas intermináveis, por excesso de tráfego ou por inevitáveis acidentes.

Lembram-se? Pois então, esqueçam! Há cerca de 4 anos que temos a A2 até ao Algarve, duas horas e pouco de 2 faixas de rodagem para cada sentido, de cansativa monotonia, intercalada apenas por um veículo capotado na berma de quando em quando (e respectiva legião de admiradores de acidentes dos outros). Enfim, uma seca, pior que "O Aviador".

Por isso, gostava de propor umas quantas alterações à A2, para conciliarmos a modernidade de uma Auto-estrada, com anos de ensinamentos na indústria popular de entretenimento que é a condução pelas nacionais do nosso país.

Antes de mais, seria necessário introduzirmos umas vendazinhas de melões nas bermas. Viagem para o Algarve que é viagem para o Algarve não o é sem umas paragenzinhas pelo caminho para escolher a fruta mais madura para se comer entre dois pézinhos de água em Manta Rota ou Quarteira. E a emoção que é ver um tosco sinal de madeira a anunciar os melhores melões da TiRita, a apenas 4 euros a meia-dúzia!!!

Depois, há a história das Zundapps. Então não é que aqueles energúmenos inqualificáveis que legislam sobre o código rodoviário, proibiram que se andasse a menos de 50km/h nas auto-estradas? Excluíram assim, de certeza inconscientemente, tudo aquilo que é motociclo clássico do nosso país!! As belas FAMEL, Zundapp e Casal Boss (e Super Boss, com mais uma velocidade adicional)! Isso é a segunda coisa a ser alterada. Urge voltar a permitir a circulação destas motoretas! Assim, poderemos continuar a ir a 200km/h para o Algarve enquanto os nossos putos vão dizendo adeus aos casais de velhotes de 80 anos que, com os seus melões e alfaces das suas culturas, se vão tentando equilibrar aos ziguezagues em cima das suas motoretas, contemporâneas da sua data de nascimento. E, podem ter a certeza, que o risco é praticamente nulo - convenhamos, eles fazem aquilo desde que as motas foram introduzidas em Portugal (para aí, séc XVII), portanto, são muitos anos a assar frangos!

Deviam também ser acrescentados uns quantos obstáculos a meio caminho, para quebrar a monotonia da viagem! Uns cavalos e cabras, uns toros de madeira perdidos na faixa da esquerda, uns arbustos na berma com uns GNR barrigudos escondidos, umas filas de trânsito aleatórias em locais onde não façam sentido, uns melões, um casal de idosos a atravessar a auto-estrada lentamente, umas obrazinhas em locais impróprios e perigosos (espera, isso ainda temos), uns marcianos a bloquearem a AE para reivindicarem uma percentagem no rapto de terráqueos para experiências científicas, uns ursos polares a serem perseguidos por pinguins... Enfim, pensem no que quiserem, a ideia seria quebrar a seca da viagem com pequenas cenas do quotidiano que acontecem a cada um de nós...

Por último, confessem, não sentem uma inconfessável saudade de atravessar todas aquelas terrinhas? Mimosa, Canal Caveira, Paz, com todos os seus restaurantezinhos de comida sofrível e pesada, bem regada com uma garrafa de tinto para nos fazermos a seguir à estrada, os seus engarrafamentos monstruosos 'porque um carro teima em querer virar à esquerda debaixo de trânsito intenso', os 'quase que te atropelava, miúdo de um raio' - confessemos, deixam saudades. Estou a imaginar fazermos mais umas quantas curvinhas na auto-estrada, umas quantas passadeiras para peões e abolirmos o separador central (mantendo as 2 faixas para cada lado, claro), para passarmos pelo meio destas terras míticas.

E, assim sim, seríamos todos muito mais felizes nas nossas viagens para baixo...

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