Descobri uma terceira maneira de acabar uma relação. E tenho a certeza que esta solução anda por ai há anos - eu é que devo andar distraído.
Toda a gente sabe que acabar uma relação não é fácil. Há sempre a possibilidade do choro desbragado do outro lado, da zanga, crise de ciúmes (normalmente não inteiramente injustificada - afinal, quantos homens conhecem que tenham acabado uma relação sem a garantia mínima de um consolo noutro lado?) ou discussão e beicinho incontrolado - e pronto, lá ficamos nós com o sentimento de culpa, com o eu não queria dizer bem isto, e zás, quando damos por isso, já lhe estamos a pedir desculpa por a nossa relação ter chegado ao limite e já não ter mais pernas para andar. Por isso, acabar bem uma relação - garantir que só voltamos a encontrar a outra parte quando queremos e que não voltamos a ser incomodados a não ser quando queremos - é uma arte.
Até agora, havia apenas dois grandes métodos comprovados:
1) A transferência de culpa:
'Sabes, quando começámos, sempre pensei que iríamos conseguir. Sempre pensei que conseguiria dar um pouco mais de mim, que conseguiria merecer um amor como o teu. Mas,... Mas tenho-me apercebido que, ultimamente, as coisas não estavam a correr bem, que, na realidade, eu não estava a mudar, que nunca mudei nada mesmo. Acho que não te mereço! Sabes, é que eu sempre fui muito egoísta e sinto que não te consigo dar o amor que tu mereces! Sinto que tu mereces mais e eu não to consigo dar! Acho que é melhor ficarmos por aqui. Por favor, tenta compreender que o problema não és tu, sou eu! Talvez um dia eu mude o suficiente para poder voltar a procurar-te. Mas sei que tenho muito que mudar e que vai demorar muito tempo, ou talvez até nunca. Por isso, acho que é melhor separarmo-nos. Acho que mereces viver a tua Vida e ser feliz longe de mim, com alguém que te mereça e que seja capaz de ter o amor e tudo aquilo que tu mereces. Quero que sejas feliz! Um beijo, XXX"
2) A discussão:
É simples! Um tipo arranja uma grande discussão com a namorada, por um motivo à partida absolutamente fútil, mas que vamos evoluindo ao longo da discussão para tocar em pontos que a vão deixar mesmo furiosa. Assim, garantimos que ela vai ficar tão danada que nunca mais o vai querer ver nem pintado! Um exemplo razoável, se bem que ainda longe da perfeição absoluta poderia ser uma coisa do género:
Ela - "Podíamos ir jantar esta noite aquele restaurantezinho ao pé da praia, em Paço d'Arcos"
Nós - "Qual, aquele restaurantezeco onde o teu pai gosta de ir?"
- "Não te apetece?"
- "Não, fofinha, ainda encontramos lá os teus pais e a mim a não está nada a apetecer aturá-los"
- "Pensei que gostasses de estar com eles!"
- "Sim querida, gosto muito deles. Mas não suporto quando o teu pai começa a dizer aquelas baboseiras dele sobre o Sporting, e a dizer que o neto dele quando nascer vai ser logo sócio do Sporting e mais não sei o quê!"
- "Mas vai mesmo! E sempre pensei que tu quisesses o mesmo?"
- "Sim, mas, porque é que ele me vem dizer isso a mim? Até parece que eu vou ter alguma coisa a ver com o neto dele. Parece que já está a pensar que nós os dois vamos casar e ter filhinhos e vamos ser todos uma grande família feliz, só com sorrisinhos uns para os outros. Como se eu quisesse que o meu sogro arrotasse cerveja num tasquedo na praia em PaÇo d'Arcos! Pff!"
A partir daqui, os dados estão lançados...
3) O método súbtil - o novo método, que requer estômago, mas nunca falha...
- "Fofinha, tenho tido uma coisa para te dizer"
- "Que é? Estás com um ar tão sério?" (o ar sério é importante, transmite dignidade e solenidade à mensagem que queremos passar)
- "É importante. Mas não sei lá muito bem como é que te hei-de dizer isto..."
- "Desembucha. Estás a deixar-me assustada!!"
- "Pronto, tá bem. Já que tem que ser. Sabes quem é o Ivan, aquele meu amigo do ginásio?"
-"Sim, aquele alto, musculado, que nós até dizíamos que se fossemos a Mykonos no Verão o encontraríamos lá com um amiguinho...'
- 'Hm, pois. Ah... Bom, no outro dia, fomos jantar depois do ginásio e... depois fomos ao teatro (fomos ver aquela peça nova com o Virgílio Castelo) e esteve-se muito bem. E depois fomos tomar um copo ao Bairro e ficámos a conversar e foi muito bom. Gostei muito de estar com ele..."
- "Sim? Não estou a perceber..."
- "Pois, eu também não... É que, depois fomos ver o nascer do sol e ficámos a conversar e... Não sei, há muito tempo que não me sentia assim. Tão próximo de alguém. E não é só o corpo dele (meu Deus, como ele é forte e tem músculos), ele vê as coisas de uma maneira tão diferente. Acho que nenhuma mulher, nem tu, me fez sentir assim, tão diferente, tão EU. Compreendes?"
- "O que é que tu me estás a tentar dizer, Vítor Alexandre?"
- "O que eu te estou a tentar dizer, Daniela, é que... é que, o Ivan me fez sentir especial. Acho que ele me fez descobrir o meu verdadeiro EU, acho que ele me libertou de mim próprio, acho que ele me fez ver quem eu sou realmente e de quem eu gosto de ser. E de quem eu gosto de ter... E que não é uma mulher, Daniela. Não é uma mulher"
E pronto! Elas ficam sem resposta! Não podem fazer nada quando um homem muda a sua sexualidade! Têm que nos deixar ir! Que nos dar palmadinhas nas costas e dizer que ainda bem que ajudaram a que descobríssemos quem realmente somos. E pronto, sem suor e sem sangue, o problema fica bem resolvido. É genial!!
O único problema, que ainda não consegui resolver, é o que é que fazemos se, daí a uns meses, ela nos apanha no Tamariz aos beijos uma morenaça qualquer de olho azul e peito avantajado. Se alguém tiver sugestões, por favor, não hesite!