Parei à entrada, esperando que as duas pessoas que me precediam na fila entrassem ou fossem rejeitadas com um “Esta é uma festa privada”. Entraram. E dei dois passos para a frente, enquanto o segurança e a porteira examinavam atenciosamente a forma como ia vestido, a minha camisola de malha e os remates de lã nas costuras. Por fim, afastaram-se para o lado, deixando-me entrar com um “Boa noite!” e um cartão em que se avisava que o consumo mínimo era 2 novelos de lã e um de fio.
Entrei. O ar era escuro e denso, já sem o cheiro de fumo, desde que a nova lei do tabaco entrou em vigor, entrecortado por luzes cintilantes e focos repentinos que passavam girando por nós, ao som da música vibrante e ritmada. Nos cantos, conseguia ver pessoas sentadas, a beber o seu copo de whisky, enquanto conversavam animadamente e tricotavam divertidas. Um dos grupos, com 6 pessoas, aproveitava a festa para dar um avanço a um grande tapete de Arraiolos, com as cores tradicionais a serem esculpidas em formas e figuras geométricas, mas o normal era cada um estar a tricotar a sua camisola de lã, casaquinho de malha ou, os menos temerários, os seus ditos cachecóis e meias quentes para o Inverno. Toda a gente parecia estar a ter um momento animado, e, passados uns minutos, com a música a bater mais forte, vi-os puxarem as cadeiras e bancos para o centro da pista e lá ficarem a dar às agulhas ainda com mais prazer.
Passei por eles e, vendo os meus amigos animados a tricotar bibelots encostados ao bar, dirigi-me para lá. Pedi o meu primeiro novelo de lã cor-de-laranja, com um outro azul para acompanhar, deram-me as 2 agulhas, e juntei-me aos meus amigos, a fazer um casaco de malha.