O Nuno da Câmara Pereira foi eleito presidente do PPM. Esta notícia é sobremaneira interessante. Não pelo Nuno da Câmara Pereira em si, eu nem conheço o homem, não vou começar agora a falar dele. Não! A notícia é interessante devido às palavras "eleito" e "presidente".
Comecemos pelo cargo. "Presidente do Partido Popular Monárquico". Eis algo que eu nunca pensei ouvir. Então, se eles são monárquicos, têm um presidente como representante máximo? No mínimo deveriam ter um conde, ou um príncipe, ou, porque não, no fundo seria o sonho de todos eles, um rei. Um rei que presidisse às cortes e os orientasse no caminho a seguir para o absolutismo monárquico - e que, se não fosse pedir demais, fosse um dos deles e lhes distribuísse títulos e terras, com poder sobre as pessoas que morassem ou trabalhassem nessas terras.
Já estou a ver, o Conde da Praça do Saldanha, com poder absoluto sobre os consultores e auditores da KPMG e Roland Berrger, os advogados da Ferreira Pinto, os criativos da Ogilvy, os empregados do MacDonald's. "O Senhor Conde manda informar que, doravante, e sob pena de decapitação na guilhotina, todos os trabalhadores na comarca da Praça do Saldanha, ficam obrigados ao pagamento mensal do dízimo", tudo para alimentar o estilo de vida ineficiente e faustoso do Conde. E, os trabalhadores que nem pensassem em sair da comarca. Seriam perseguidos a cavalo pelos guardas do Conde e açoitados à vista de toda a gente como exemplo! (estou a ver a imagem de um desgraçado, de fato e gravata, com uma pasta na mão, a correr desalmadamente pela Avenida da Liberdade abaixo, perseguido por uns quatro tipos a cavalo, com cota de malha, elmo e lança...)
Outra palavra curiosa é a palavra "eleição". Nunca pensei que os monárquicos conhecessem essa palavra! Mas uma eleição dentro do PPM deve ser interessante. Primeiro, convocam-se as cortes, com todos os notáveis do partido (tradução: com todos aqueles que têm a mania que detêm títulos nobiliárquicos, tentando esquecer-se de que vivemos numa república), começando sempre a missiva convidativa com um certo estilo de escrita: "Tem o nosso Conselho o prazer de convidar Vossa Excelência, Manuel José Joaquim Alberto Tiago Nuno de Maria, Duque de Alfeizerão, para as XII Cortes do nosso Partido, a realizar no dia 20 de Maio, no Hotel Altis Olaias, na capital real de Lisboa". A primeira parte das cortes é a fase das lamentações, em que todos os presentes têm que se reunir e lamentar-se por Portugal já não ser um reino, ao mesmo tempo que tomam parte do passatempo nacional que é falar mal do governo (independentemente do governo que estiver no poder):
- "Ai que este país não se endireita"
- "Isto vai de mal a pior!"
- "Eu digo-lhe, o povo seguiria o seu rei!"
- "Haveria classe! Distinção! Que nenhum desses republicanos sem família alguma vez poderá trazer a qualquer país"
- "E ainda nos perderam África! E ainda nos destruíram o nosso império que tanto trabalho nos deu a criar"
- "Ainda no outro dia, apanhei o autocarro e cheirava mal! Digo-lhe, cara Maria Arminda, isto a culpa é do governo!"
Depois, passava-se à fase de organizar a sala para a votação. Depois de 4 horas de discussão, porque toda a gente se queria sentar à direita ("Eu? À esquerda? Como um comuna? Deus me livre!"), chega-se à parte de escolher o método de votação (“Votamos braço no ar ou é secreto?", "E que tal se votássemos para saber se devemos votar de braço no ar ou com papelinhos dobrados?", "Excelente ideia!", "Mas, e essa votação para a votação deve ser braço no ar ou é secreta?"). No fundo, nada disto importa, porque, de repente, aparece uma facção na sala, armada de espadas e declara que começa a guerra civil, pelo direito legítimo do Conde de X, ao cargo de representante máximo do PPM, por direito de sucessão linear. Rapidamente se instala a confusão na sala, com todos os presentes a tomarem partido junto das diferentes facções que lestamente se formam, cada uma delas reivindicando para o seu representante proposto o direito de sucessão linear consanguínea por parentesco com o D. Afonso Henriques. Em menos de 2 minutos, começam a desembainhar-se espadas, chamam-se os guardas (normalmente, em dias fora de cortes de sucessão real, são jardineiros e motoristas) e começa a guerra civil. Costuma acabar antes do jantar (porque o pessoal fica com uma galga!!), quando apenas uma das facções prevalece, enquanto as outras se rendem. Segue-se a decapitação dos líderes das partes derrotadas, por traição à pátria e à Coroa, o que tem a vantagem de acabar logo com quaisquer pretensões por direito de sucessão consanguínea de outrem que não o proposto pela facção vencedora, conhecida nas "Crónicas do muy nobre Partido Popular Monárquico" (que substitui as actas e minutas do povo ordinário) como "a victória da Justiça, do Direito e da Coroa legítima face à usurpação de traidores a mando de reinos estrangeiros". Distribuem-se uns títulos pelos membros da facção vitoriosa (com sorte um jardineiro ou motorista que se tenha portado melhorzinho lá ganha um novo estatuto) e vai tudo para casa contente, pela eleição de